Sunday, February 22, 2009

A pessoa mais linda do mundo

A música Pessoa, do compositor Dalto e interpretada por Marina Lima, vai ao encontro do que escrevi no post Mulheres em extinção? Às vezes, só de olhar, não reconhecemos a pessoa mais linda do mundo. Porque o olhar só enxerga a saia curta e o decote generoso, para usar os mesmos exemplos que usei no já mencionado post - e poderia ser um exemplo da contrapartida, pois estou falando das mulheres vítimas de estereótipos porque a questão me surgiu assim através daquela comunidade do Orkut, mas é claro que as mulheres também rotulam os homens através de estreitas frestas e os rejeitam de acordo com elas.

Escutem a música, ela está entre as minhas preferidas da Marina. Aliás, as músicas que são especiais para mim, assim como as pessoas que o são também, eu sempre lembro como eu conheci. Pessoa é de um álbum de 1993 da Marina, mas eu só fui ouvi-la pela primeira vez em fevereiro de 1999, num comercial da GNT que anunciava a programação especial que o canal exibiria durante a semana da mulher. Eu estava almoçando, cabeça baixa, olhando para o prato, quando ouvi aquela breve introdução seguida daqueles versos na voz da Marina. Ergui imediatamente a cabeça para ver do que se tratava. "Que música linda!", pensei. Agora ouçam e pensem vocês também. E não cansem nunca de acreditar!


Mulheres em extinção?

Esses dias eu estava percorrendo a esmo algumas comunidades do Orkut quando me deparei com uma de nome Mulheres em extinção, que conta com cerca de 66 mil membros. Cliquei no ícone para ler a descrição - o que seria uma mulher em extinção? - e descobri que a comunidade se refere a mulheres "finas, inteligentes, educadas, que se dão valor e que não saem fazendo barracos e falando palavrões". Então chamou-me a atenção o tópico mais recente do fórum de discussões: um rapaz criticava a suposta hipocrisia dos membros daquela comunidade, pois não pode haver 66 mil mulheres que não falam palavrões e que não transam com o primeiro bonitinho que aparece. "Se for investigar o passado de cada uma delas, não se salva uma", dizia o autor do tópico.

O que se seguiu à colocação deste rapaz foi um, a meu ver, festival de opiniões estreitas.

Todos os participantes masculinos da discussão mostraram-se indignados com o comportamento feminino atual - e não lhes tiro totalmente a razão. A questão é que eles e - olha lá o perigo das generalizações, mas vamos lá - a maioria dos homens analisa a questão de uma perspectiva, na minha opinião, distorcida. Não se trata de promiscuidade gratuita ou de - como muitos acreditam, e eu às vezes custo a acreditar que eles realmente acreditam nisso - interesse pelas condições materiais do rapaz. Pelo menos, não na maioria dos casos.

O que eu penso acontecer é que as mulheres, incentivadas pelos primórdios do feminismo, pensam-se inferiores aos homens, e por isso, querem competir com eles. Homens adoram conquistar e colecionar mulheres - e, homens, acreditem, isso incomoda muito as mulheres. Então elas fazem o mesmo para lhes dar o troco. E conseguem, pois como a tal discussão comprova, os homens estão incomodados com isso. Eu sei que em homens isso pode ser natural, mas isso não deve servir de desculpa para tal comportamento, pois nem tudo o que é natural é bom: o câncer é natural, assim como os terremotos, o infanticídio dos filhotes defeituosos - e o interesse feminino pelos machos que lhe dêem mais segurança, seja ela de que natureza for! ; )

Eu realmente penso ser uma forçação de barra da parte das mulheres fingirem realização ao seguir o modelo masculino de fazer sexo. Cheira-me a um modo de compensação, uma vingança. É mais ou menos como se uma menina visse um menino brincando alegremente com seus carrinhos e, largando súbita e raivosamente suas bonecas, dissesse: “Ah, é? Você gosta de brincar com carrinhos? Pois eu também gosto!”, e pegaria os carrinhos e brincaria com voracidade, fingindo contentamento, e diria “Olha só, como eu também gosto de brincar com carrinhos!” Mas na verdade ela não gosta.

Outro fato que chamou a minha atenção no debate em questão é a maneira absolutamente precipitada com que os homens julgam as mulheres. Uma saia curta e um decote generoso já basta para que a moça mereça rótulos nada abonadores. E o pior é que, uma vez que rotula aquela cristã, o cara não consegue enxergar mais nada na moça a não ser o estereótipo que ele mesmo criou para ela - eis o perigo dos estereótipos! -e nem leva em consideração que, mesmo que ele esteja certo em seu preconceito, a moça pode vir a mudar.

Em suma, no tópico nenhum homem questionou o porquê de estas mulheres se comportarem assim, muito menos levantou a hipótese de que elas podem ser promíscuas, sim, mas não apenas isso. Elas podem ser promíscuas e carinhosas, promíscuas e batalhadoras, promíscuas e competentes, promíscuas e aspirantes a um relacionamento que as façam não querer mais ser promíscuas. E o mesmo vale para os homens ditos cafajestes. A questão é que como quase ninguém está disposto a ter o trabalho de mudar, pensam que todas as demais pessoas também não podem. Mas todas podem, se quiserem e se tiverem um bom motivo para isso. E qualquer um de nós pode ser esse motivo.