Saturday, June 03, 2006

Interpretações...


Oscar Wilde dizia que a única função da arte era ser bela. Concordo em parte. Torço mesmo o nariz para muitas das obras das últimas exposições a que fui ultimamente e confesso que nem me dei ao trabalho de interpretá-las. Sua feiúra me espantou tão lougo pus meus olhos nelas. A feiúra agride os olhos. Desagrada. Causa repulsa.

Há, no entanto, quadros que, embora não primem pela beleza, são passíveis de uma interpretação tão interessante que me fazem esquecer Wilde. Observem este quadro do pintor surrealista René Magritte. Um pintor mira seu "modelo" - um ovo - e pinta uma ave. Em outras palavras, ele representa um ovo como um pássaro. Na minha opinião, o quadro é um elogio ao artista, ser humano dotado de percepções especiais acerca da realidade. Onde a maioria enxerga um ovo, quem sabe até um alimento, o artista enxerga a beleza de um pássaro, a tranqüilidade do vôo. O artista não se limita àquilo que seus olhos vêem materialmente. No caso em questão, não se restringe a um pequenino objeto, limitado, fechado, capaz de caber na palma de nossa mão. Ele vê, sim, a liberdade das asas abertas, a doce habilidade de voar com a qual o homem só pode sonhar. E desse modo, o artista dá asas ao próprio olhar. O artista vê adiante. E é generoso com aqueles que apreciam suas obras. Dão-nos poucos elementos para que possamos também nós partilhar, ainda que em escala menor, do poder de enxergar longe, de dar às coisas a nossa visão. Como deuses que dão aos mortais um poder divino, os artistas dão aos seus apreciadores um pouco de seu gênio, do poder de criar. James Joyce disse certa vez que é mais difícil encontrar um bom leitor do que um bom escritor. Eu sempre pensei que aquele que lê (ou ouve, vê, enfim) um gênio também deve ser considerado um pouco gênio.

E você, qual é a sua interpretação para o quadro de Magritte?

Bjs!