Sunday, September 13, 2009

Meu novo blog:

Uma vez que a plataforma WordPress oferece-me alguns recursos interessantes, resolvi migrar para lá. Importei todos os post daqui para lá, e já fiz novas novas postagens lá também.

O endereço é: www.anamariamontardo.wordpress.com

Abs!

Thursday, February 26, 2009

Yes, we can!



Ao cair por acaso naquele comercial que postei aqui em que aparece a Adriana de Oliveira, fiquei mexida com o assunto "morte". O caso dela me fez lembrar o de outras mortes prematuras - Daniella Perez, morta aos 22, Fernanda Vogel, aos 21, e, mais recentemente, Mariana Bridi, aos 20 - e, pensando na morte, acabei pensando na vida. Olhei para as fotos delas - coincidentemente, eram todas lindas e vivazes - e pensei que elas não tiveram a chance de... bom, eu nem sei o que elas queriam da vida. Quando pessoas jovens morrem, o comentário mais comum dos familiares é "Tantos sonhos pela frente..." E, de fato, além da dor da ausência e da saudade, fica o luto pelos sonhos que ficaram pelo caminho a serem realizados. Não sei que sonhos elas tinham, nem sei se tinham sonhos - tem gente que não os tem. De qualquer maneira, o que quer que elas quisessem fazer, elas não podem fazê-lo. A gente pode. E ter me dado conta disso me deu uma deliciosa sensação de estar viva.

Pensemos nos sonhos mais absurdos ou distantes: passar em Medicina na UFRGS, engravidar aos 40, tornar-se jogador de futebol aos 30, emagrecer 20 quilos, ganhar um Oscar, atravessar o Canal da Mancha a nado, criar um conglomerado de empresas, fundar um orfanato, voar de foguete, superar um fracasso... Tudo parece impossível. Mas só é impossivel para elas. Para elas, sim, não há cursinho pré-vestibular que resolva, nem tratamento de fertilidade, nem treino, nem dieta, nem trabalho, nem dedicação, nem perseverança, nem terapia. Para elas está tudo perdido. Já era. Eu fico imaginando as pessoas do outro mundo olhando para nossas caras de derrota e pensando o mesmo que o protagonista daquele filme argentino Valentín: "Existem umas pessoas que passam os dias como se a vida não lhes fosse algo útil".

A gente pode não ter todas as condições necessárias para começar o nosso plano de ação rumo nossas metas, mas o principal a gente tem: vida. Os vivos podem um monte coisas. Um operário pode ser eleito e reeleito presidente do Brasil. Um negro pode ser eleito presidente dos Estados Unidos. Um fisioculturista austríaco pode se tornar ator em Hollywood e depois ainda ser eleito governador da Califórnia. Uma coelhinha da Playboy pode se tornar a apresentadora de programa infantil mais famosa do Brasil. Uma professora desempregada pode escrever um livro infantil e ficar mais rica do que a Rainha da Inglatera. Um escritor brasileiro renegado pela crítica pode vender milhões de exemplares ao redor do mundo e passar a integrar a Academia Brasileira de Letras. Uma brasileira pode ter um filho do Mick Jagger. Uma ex-namorada do Mick Jagger pode casar com o presidente da França. E o Mick Jagger, apesar de todos os excessos - e de tantas namoradas - pode chegar aos 60 anos com a agenda lotada de shows - e shows de rock n' roll, fosse de bossa nova, a gente não se admirava tanto. Só quem já morreu não pode nada disso.

A gente pensa que não pode usar minublusa porque está acima do peso, ou minissaia porque está acima da idade, que não pode largar o emprego que detesta, terminar o casamento infeliz, enfrentar determinadas pessoas e lhes falar tudo o que a gente pensa e sente... Mas a gente pode. A gente precisa pagar um preço por isso, é verdade ( e entenda-se por "isso" quaisquer das alternativas, falar ou calar, terminar ou manter, etc), mas pelo menos a gente pode escolher qual preço quer pagar. E nem isso quem já morreu pode.

Dizem que conhecimento é poder. Que dinheiro é poder. Que networking é poder. Que posição social é poder. Concordo. Mas o maior poder mesmo, o poder indispensável é a vida. Na vida, tudo o que é impossível para os mortos é apenas improvável. E realizar o improvável é uma questão de vontade. Mais, é uma questão de determinação. Uma vez alguém comentou com minha mãe sobre uma pessoa que tinha conseguido emagrecer muito caminhando. Ela não podia pagar academia, então caminhava pelas ruas da cidade todos os dias, sem exceção. Quando chovia - olha lá que imagem bela, que metáfora! - ela saía a caminhar... de guarda-chuva. Esse alguém disse "É muita força de vontade, não é?", ao que minha mãe respondeu "Isso não é vontade, é determinação". Concordo! Duvido que a tal pessoa tivesse sempre vontade de sair caminhando na chuva, levando banho dos carros que passavam por ela. Alguns argumentarão que é vontade, sim: vontade de emagrecer. Eu insisto que não. As vontades são inconstantes, mudam de direção, enfraquecem-se e enfraquecem-nos, levam-nos aos caminhos errados. "Escutar a voz do coração" é um perigo! O coração nem sempre manda fazermos o que é melhor para nós a longo prazo. O coração é infantil, selvagem: só pensa na satisfação imediata. É por isso que precisamos da determinação, que não nos pergunta se estamos com vontade nem consulta a previsão do tempo.

Raul Seixas diz numa de suas músicas que "o negócio é saber que o mar não está pra peixe e sair pra pescar". Ele tem razão. E, se pensarmos bem, o mar só não está pra peixe para quem não pode mais pescar.

E nós podemos.

Falando em comerciais...

...Eu não podia deixar de dedicar um post exclusivo ao meu comercial favorito: o de lançamento da revista Época. É uma verdadeira obra-prima. É de 1998. Só tem uma coisa com a qual não concordo: uma semana não é "nada" para a História. Muita coisa pode mudar em uma semana e até em menos tempo.

Comerciais da década de 80!

No último post eu falei dos comerciais antigos, lembram? Pois pesquisei no YouTube e encontrei alguns.

Este é da Estrela, mas não consegui encontrar o comercial mesmo, só o jingle. Mesmo assim, é de arrepiar. Isso é a infância inteira de quem nasceu por volta de 1980. Aos mais emotivos, preparem os lenços.



Este também marcou época: Chambinho da Chambourcy, ao som de Carinhoso, do Pixinguinha, cantado por crianças. Passou em 1984 - eu tinha 4 anos, e lembro!



Este é da Faber-Castell, com a música Aquarela, do Toquinho. Não há quem não lembre. Fizeram outras versões depois, mas a mais mágica é esta, porque a voz é de uma criança. Estou chegando à conclusão de que crianças gostam de ouvir crianças cantando.



Mais um em que crianças cantam e que todas as crianças amavam: o comercial de Natal do Banco Nacional. "Quero ver você não chorar, não olhar pra trás..."



Este é o da Bolinha de Sabão, de que eu falei no post anterior. É claro que eu queria ter uma, mas era muito cara. Só conheci uma menina que tinha. Ela tinha a Lu Patinadora também. Ela tinha tudo!



Este é do jeans Pool, do "Pool da Gata", que ficou bem conhecido principalmente por causa da música, Wishing Well, do Terence Trent D'Arby. Alguém vê comercial de jeans na TV hoje em dia?



E este é do "Pool do Gato". A modelo do final do comercial é a Adriana de Oliveira. Para quem não lembra - ou para quem não era nascido na época - essa menina era lindíssima - como podem ver aqui - e tinha uma carreira promissora, mas morreu em janeiro de 1990, aos 20 anos, vítima de overdose. Numa noite com amigos e o namorado em um sítio, bebeu, fumou maconha e cheirou muita cocaína. O fato teve muita repercussão - leiam, se quiserem, reportagem de capa da Veja sobre o assunto: http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_14021990.shtml - porque, além de envolver uma pessoa famosa, a tragédia poderia ter sido evitada caso a modelo tivesse sido socorrida imediatamente, o que não aconteceu porque seu namorado e seus amigos temeram as consequências legais que isso certamente acarretaria. Deu em morte.



Bom, como já disse no post anterior, uma das mudanças que mais gostei nos últimos anos foi a invenção do YouTube. Eu ficaria uma tarde inteira só olhando comerciais e aberturas de novelas da minha infância.

Wednesday, February 25, 2009

Tudo muda o tempo todo no mundo

Este mundo tem mudado muito, fala a verdade!

Eu estava aqui pensando que eu tenho blogado muito ultimamente – que é uma coisa de que eu gosto porque posso fazer quando, como e no tamanho que eu quero –, e aí eu pensei que já existe o verbo “blogar”, olha que coisa. “Blogar” vem de “blog”, que vem de “weblog”, que é uma palavra inglesa que surgiu da aglutinação de “web” – teia, mas que nesse caso se refere à rede mundial de computadores – e “log”, que significa “diário de bordo ou de vôo” ou então “registrar”. De tudo isso surgiu “blogar”. É um verbo informal, quer dizer, não foi dicionarizado. E talvez nunca venha a ser, porque em português é assim, só existe o que sempre existiu, e o que existe a partir de agora nunca existirá.

Isto é uma coisa que eu admiro na língua inglesa: eles criam palavras a torto e a direito. Surgiu a necessidade, eles criam. Hoje em dia existe o verbo “email”, sabiam? Eles dizem “Email me”, que significa “me manda um email”. Eles poderiam dizer “Send me an email”, mas dizer “email me” é mais fácil e igualmente compreensível, portanto eles optam por “email me”. “To google” também já existe. Em inglês você não precisa dizer que pesquisou no Google, você diz “I googled”. Assim como “YouTube”, que acho que como forma verbal dá para escrever com “t” minúsculo, né? “I youtubed that band you told me to”, por exemplo. É que eles tem uma vantagem de não precisar acrescentar terminações verbais, né? Write, read, play, cry, stop, begin e fish são todos verbos, e nenhum termina do mesmo jeito. Em português, no infinitivo, tudo precisa terminar com –ar, –er ou –ir. É muito limitante. E lembrem do velho Wittgenstein: “os limites da minha língua são os limites do meu pensamento”. Será que isso quer dizer alguma coisa sobre os países luso-falantes?

Vocês sabem como as reedições do dicionário Oxford são feitas? A equipe responsável sai pelas ruas das principais cidades da Inglaterra e dos Estados Unidos com um gravador e vai gravando tudo pelas ruas. Os taxistas, as pessoas conversando nas estações de trem, etc. Depois eles escutam tudo, tomam nota das palavras e termos novos e analisam o sentido deles dentro do contexto em que foram usados. E então incorporam o novo verbete na nova edição. Lá é assim, primeiro o povo fala, depois se dicionariza. No Brasil é diferente. Existe o dicionário cheio de palavras que ninguém usa – isso não lhes lembra um verso de Raul Seixas? – e as palavras que todo o mundo usa, mas que nenhum dicionário registra. Um não precisa do outro e vice-versa. Se o povo consultasse o dicionário, se espantaria. Se o dicionário consultasse o povo, então, nem se fala! A regra e a prática são completamente independentes. Aliás, lá em Salvador um taxista disse que no trânsito soteropolitano se dá mal quem segue os sinais de trânsito. E o demonstrou: “Quer ver que eu vou ligar a seta, e ninguém vai me dar lugar?”, desafiou. Dito e feito. “É por isso que o melhor é não dar sinal e se jogar na frente do carro”, explicou. E foi o que fez. Que selvageria!

Mas eu estava aqui falando do verbo blogar. Vocês já pensaram como tem um monte de palavras que antes não tinha, e se tinha, não com o uso que tem hoje? Pardal. Provedor. Torpedo. Celular. Portabilidade. Sala de bate-papo. Pendrive. MP3. Webcam. Avatar. DVD. LCD. Para cada coisa que se inventa, tem que dar um nome. O único lugar em que os nomes vieram antes das coisas é a Bíblia. Lá Deus diz “Faça-se a luz” e só então a luz passa a existir. A palavra “luz” existe antes de a coisa “luz” existir. Mas Deus tinha a vantagem de só precisar saber de antemão os nomes do que Ele ia inventar em sete dias. Opa, em seis, no sétimo Ele descansou. A gente não tem essa moleza. De lá para cá, já foi inventada tanta coisa, que a gente não ocupa memória no nosso HD com os nomes das coisas que estão por serem criadas. A realidade exige mais praticidade: a gente só decora os nomes das coisas que já existem, e ainda assim, só das que fazem parte do nosso dia-a-dia. Ou vocês acham que quem mora no sertão nordestino sabe o que é portabilidade? Não, a gente guarda tantos nomes quantas coisas existem no nosso mundo. Portanto, a restrição do seu vocabulário é a restrição do seu mundo.

Uma vez que muita coisa é inventada, muitas outras caem em desuso. E as palavras que lhe dão nome, conseqüentemente, também. Anágua. Datilografia. Disquete. Vitrola. Videocassete. Toca-fitas. Filme de fotografia (da época em que a gente tirava as fotos e ainda tinha que pagar para mandar revelar). Revista de letras traduzidas. Eram revistas que vinham com as traduções de músicas estrangeiras. Eu cheguei a pegar esse tempo, comprei na adolescência revistas com letras do Doors e do Led Zeppelin. Outras coisas continuam a existir, mas como já se nos tornaram íntimas, não precisam ser referidas com nome e sobrenome. Quem hoje em dia diz que comprou uma televisão com controle remoto? Ninguém. Mas na década de 80, falava-se – e com orgulho. Hoje soaria tão absurdo quanto dizer “TV a cores”.

Uma coisa que eu acho curiosa são os comerciais de TV. Analisar comerciais de TV através das décadas é um estudo antropológico e tanto! Eu não vejo muita televisão – não é por não gostar, acho a maior cafonice as pessoas quererem se engrandecer ao dizer que não gostam de TV! –, mas quando eu assisto, não costumo ver comerciais de brinquedos. No meu tempo de criança tinha comercial da Barbie, da Lu Patinadora, da Bolinha de Sabão, do Anfibius, dos Comandos em Ação, do Genius, e mais um monte de brinquedos da Estrela e da Glasslite. Tinha comercial de cigarro – os do Free eram ótimos, teve uma campanha cuja trilha era uma música estilo Joe Satriani em que apareciam jovens descolados pintando uns quadros de arte abstrata muito bonitos e dizendo coisas do tipo “Quando nada é certo, tudo é possível”, e acabava com o slogan do Free, que era “Questão de bom senso”. Tinha comerciais de marcas de lingerie, como a DeMillus e a Valisère. Não lembro de ter visto comerciais disso ultimamente.

Por outro lado, não havia comerciais de certas coisas, algumas porque não existiam, outras porque não era necessário. Provedor da Internet, por exemplo, não existia, assim como operadoras de telefonia celular. Outras coisas existiam, mas não faziam anúncios na TV. Escolas particulares não tinham com quem concorrer, por isso podiam se dar ao luxo de esperar os pais procurarem a escola para fazerem as matrículas. Clínicas de cirurgia plástica não faziam procedimentos em milhões de vezes no cartão, por isso a clientela se restringia a um seleto grupo que não justificava pagar milhões pelo minuto na TV. E tem outras coisas que, sinceramente, não sei porque anunciam. Outro dia eu vi um comercial de um cemitério daqui de Porto Alegre. O que será que passou pela cabeça do dono do cemitério quando teve a idéia de anunciar? “Nunca se sabe quais são os sonhos de consumo das pessoas”, será?

E as despesas? Quando eu era criança, meu pai não precisava pagar conta de celular, conta da Internet banda larga, conta da TV a cabo, conta do sistema de segurança da casa... E no preço da cerveja que ele bebia no bar também não vinha embutido a despesa que o bar tinha com o seu sistema de segurança.

É, minha gente, e pensar que houve tempo em que o Michael Jackson era preto, a Madonna era puta, o Arnold Schwarzeneger era ator, o Paulo Coelho era letrista do Raul Seixas, o João Gordo era punk, o FHC era de esquerda, o Lula era sindicalista, o PT era honesto, o rock era rebelde, o futebol era arte, homossexual era bicha, afro-descendente era negro, consequência se escrevia com trema, e todas as mulheres sonhavam com o George Michael.

Não estou querendo dizer com tudo isso que de lá para cá as coisas pioraram. Na adolescência, se eu gostava muito de uma música tocando num carro qualquer no trânsito, tinha que conviver com a angústia não só de não saber que música e que banda eram aquelas, mas também com a de nunca mais escutá-la, até que um dia, anos depois, por acaso, eu escutasse a música de novo na casa do primo do vizinho do ex-namorado de uma colega de faculdade e perguntasse “Que música é essa? Quem canta? Me empresta este CD?” Hoje eu digito parte do que eu entendi da letra no Google, descubro o nome da música, encontro-a no YouTube e naquele dia mesmo já estou cantando-a no chuveiro.

Houve tempo em que a gente carregava papelada pra cima e pra baixo. Depois nós começamos a levar as coisas armazenadas num disquete ou num CD e a já achávamos o máximo. Hoje a gente leva tudo na pendrive, quando não envia para si mesmo por email.

Houve tempo em que a gente se perguntava “Que fim terá levado o Fulano?” E continuávamos sem ter notícia do Fulano. Hoje tem Orkut. Dá para saber no que ele está trabalhando e se está casado ou separado, e pelos scraps e comunidades, dá até para saber quem deu o pé na bunda de quem. Se ele for discreto – ou anacrônico – e não estiver no Orkut, a gente procura no Google. Ninguém escapa ao Google. É só digitar lá “Fulano de Tal” e pronto. Podemos não descobrir seu estado civil, mas dá para saber até os concursos públicos que fez – e se foi aprovado – e as multas que levou do Detran. Se ele não estiver no Google, já sabe: é porque morreu.

Você já experimentou assistir a um filme no videocassete depois de anos só assistindo em DVD? Eu já. Foi uma tortura. Nem consegui ver até o fim. Você já navegou em Internet discada depois de ter tido Internet banda larga? Pois é. E teve um tempo em que você achava que Internet discada era tudo!

A vida é assim. A gente vive coisas que, na hora, a gente pode achar o máximo, e tempos depois, a gente se pergunta como é que conseguia viver daquele jeito. Naquela cidade. Naquele emprego. Com aquele salário. Com aquela pessoa. E a gente conseguia viver porque a gente não sabia – a ignorância é um excelente regulador de apetites! – como era a imagem do DVD, a rapidez da Internet banda larga e a vida em outra cidade, em outro emprego, com outro salário, com outra pessoa. Ou, vá lá, na mesma cidade, com o mesmo emprego e com o mesmo salário, só que sem aquela pessoa, não precisa nem estar com outra, só de estar sozinho já é uma evolução e tanto.

E a gente vai mudando, e, assim como as coisas e as palavras que dão nome às coisas, algumas de nossas versões ficam ultrapassadas conforme vamos descobrindo outras formas de ser - e muitas vezes só percebemos a mudança muito tempo depois, do mesmo modo como percebemos que deixamos de dizer "televisão com controle remoto". Se a gente parar pra pensar, todo o mundo é meio inglês: a gente vai se inventando de acordo com a necessidade e descartando as pessoas que não nos servem mais ser, e isso pode ser bom e pode ser ruim, depende da maneira como se usa esta habilidade – se é porque é bom para nós ou se é porque é bom para os outros. Poderão alguns pensar que às vezes o que é bom para nós é ser bom para os outros, mas eu desconfio que depender dos outros – ainda mais para ser – nunca é bom.

E a gente é tanta gente ao longo da vida, que é preciso um dia inteiro para conseguir lembrar de tanta gente que a gente já foi, da mesma forma como para conseguir lembrar de tanta coisa e palavra que já existiu no mundo e não existe mais.

Eu mesma às vezes leio coisas que escrevi aqui e, diante dessa outra pessoa que eu era e que escreveu aquilo, chego até a sentir aquele constrangimento que se sente ao reencontrar uma pessoa de quem já se foi íntimo, mas já não se é mais.

Mas não deleto o que escrevi. Estranhar-se não é se arrepender. Não necessariamente. Pode ser só a surpresa de ser lembrado de como se era, como quando se encontra por acaso um cartão de visita ou uma nota de dois reais no bolso de uma calça que não se usa com frequência.

Reencontrar todo o mundo que a gente foi é uma ótima maneira de analisar o que fizemos de nossas vidas e também de projetar o futuro.

O que você está fazendo pelas pessoas que você ainda vai ser? Elas lhe serão gratas?

E se você se deparasse com você criança, seja honesto consigo mesmo...

...quem daria colo a quem?

Tuesday, February 24, 2009

Nostalgia

Não sei por quê, mas hoje eu passei o dia inteiro com a sensação de que eu estava em 2005. Sensação desagradável, porque 2005 não foi um ano do qual eu tenha muitas saudades. Foi um ano de muita melancolia. Mas para exorcizar esta sensação, fui ao YouTube escutar uma banda maravilhosa que eu escutei muito em 2005: Cocteau Twins. Melancólica, como só os britânicos sabem ser.

A última a saber

Ai, credo, estou me sentindo marido traído! Se não sou eu a fuçar essa Internet de meu Deus, eu fico pra trás das novidades da música. Foi sozinha que descobri Amy Winehouse. Agora essa: ninguém me conta que existe uma garota australiana arrasando! Descobri por acaso, lendo um blog dedicado à... Amy Winehouse. Fui pesquisar e vi que no Orkut já existem comunidades dedicadas a ela criadas em 2007!!! E dizem até que teve um comercial do Rexona aqui no Brasil com uma música dela.

Se você está mais por fora do que eu e também não está sabendo de nada, eu te apresento: Gabriela Cilmi é o seu nome - se pronuncia "Tilmi", é de origem calabresa. A menina - nasceu em 10 de outubro de 1991! - é de Melbourne. Parece que agora ela mora em Londres. Ah, sei lá, para maiores detalhes, procure na Wikipedia. O que importa mesmo é que o repertório é muito bom e a voz é maravilhosa. Já estão comparando com a Amy - que saco! Bom, Cilmi tem uma voz muito poderosa, mas acho que é um pouco mais aguda que a de Amy, e seu repertório é um pouco mais pop (e algumas, mais alegres), também. E, pelo pouco que vi até agora, a menina, apesar de ter personalidade, não tem intenção nenhuma de ser maldita. Em suma, Amy é Amy e Gabriella é Gabriella. Curtamos ambas sem moderação! Êta década que tem sido bem boa, hein?!

Esta é música dela de que eu mais gostei. Tem o clipe no YouTube, mas não tem permissão para incorporação aqui, então...

E este é o seu maior hit


Também gostei muito desta:


Bom, não vou encher meu blog de vídeos. Procurem Einstein, Awkward Game e Sorry, são músicas interessantes também, todas do único álbum dela, Lessons to be learned. Há outras canções de que não gostei tanto - me lembram as músicas de que eu não gosto do Pixies, sabe aquela gritaria? Pois é.

Monday, February 23, 2009

As razões das exceções

Por que só aquela é vermelha?

Como já escrevi alguns posts atrás, passei férias em Salvador. Logo, não sobrou dinheiro para eu fazer algo neste carnaval. O carnaval de 2009 está sendo aqui, em Porto Alegre, em frente ao computador, ouvindo música no YouTube, lendo alguns parágrafos de A jangada de pedra, de Saramago, escrevendo no blog, pensando, pensando, pensando... E tem sido muito bom, sabe? É um retiro espiritual forçado.

Minha irmã disse que, se fosse homem e fosse apresentado a mim, me acharia a mulher mais desinteressante do mundo por estar passando o carnaval sozinha em casa (a Sandra e seus preconceitos...) Pois eu discordo dela. Discordo dela totalmente. Se a maioria esmagadora das pessoas faz alguma coisa no carnaval, o que haverá de especial com a minoria que não faz nada? As exceções, me interessam muito elas!

Pois só vim a pensar nisso hoje, alguns minutos atrás. Está chovendo em Porto Alegre, de modo que não pude levar Diná, minha companheira de todas as horas que, aliás, completou um ano ontem, para passear. Por isso, levei-a agora à noite ao pequeno jardim do meu prédio, só para ela se divertir um pouquinho - pelo menos ela! -, e pude ver que, no bar em frente, havia duas pessoas conversando. Duas pessoas conversando no bar que fica em frente ao meu prédio! Numa segunda de carnaval chuvosa em Porto Alegre! Único! Insólito! Se eu tivesse levado meu celular, teria tirado foto. Se eu não tivesse pudor nenhum, deixaria a Diná desvendando os mistérios daquele jardim pelos quais só os cães se interessam em desvendar e atravessaria a rua e pediria uma cerveja e me sentaria àquela mesa e perguntaria com real curiosidade pela resposta:

_ Por que vocês estão aqui?

Ah, essa ideia de que se intrometer na vida alheia é falta de educação impede diálogos incríveis! Evita encontros inesquecíveis!

Subindo de volta ao meu apartamento, o inusitado continuou. A janela do meu quarto dá para os fundos do meu prédio, aliás dá para os fundos dos outros prédios também. Telhados, janelas, garagens, varais e peças de roupas que caíram deles e que ninguém fez questão de resgatar. Pois ao passar pela janela do meu quarto, ouvi vozes. Ouvi vozes e não vi luz brilhando de nenhuma janela. Na minha vizinhança, pensei, alguém conversa no escuro. No carnaval, milhões de pessoas bebem, beijam, tiram o pé do chão e batem na palma da mão. Mas quantas conversam no escuro?

Que vontade de ir até lá e perguntar:

_ Por que vocês estão aqui? E por que estão no escuro?

Mas eu nem sei o número do apartamento. Por que não gritar? Poderia gritar, eles ouviriam, pois eu não os estou ouvindo conversar? Mas eu perturbaria a ordem se o fizesse. Ordem do quê, criatura? Não tem ninguém no bairro inteiro a não ser aquelas duas pessoas conversando no bar e essas outras duas no escuro! Ah, mas mesmo assim... Vocês nunca tiveram a impressão de que o próprio silêncio se incomoda com o barulho? Vocês nunca se flagraram cochichando com alguém de madrugada até que esse alguém perguntasse porque vocês estão falando baixo, já que não tinha ninguém dormindo mesmo, e daí vocês começaram a falar alto e sentiram um desconforto e tiveram a impressão de que estavam violando alguma coisa, mas não sabiam o quê? Pois era o próprio silêncio. Era a ordem das coisas. Leiam a crônica Insônia, de Luis Fernando Verissimo, e vocês vão me entender. Aliás, vocês vão se entender – que é pra isso que existem literatura e gênios como o Verissimo. Diz ele nessa crônica que à noite sua casa não é sua. Ele tem razão. À noite, nosso bairro também não é nosso, nem a cidade. Mesmo e principalmente quando ela está vazia numa segunda de carnaval.

Então, como sou tão respeitosa em relação ao silêncio e à ordem das coisas, eu não grito. Eu só imagino. Imagino o que poderia acontecer se eu saísse pela cidade a visitar todos que ficaram em Porto Alegre no carnaval e lhes indagaria o porquê de estarem aqui. O que não viria como resposta, hein?

Um senhor, ouvindo Coltrane e com um DVD de Um miterioso assassinato em Manhattan nas mãos, me diria que simplesmente detesta carnaval. Diria que houve outrora tempos bons de carnaval, tempos em que a trilha sonora ainda era composta de bons sambas e em que até a malandragem era inocente, mas que nada mais disso existia e que, por isso, ele preferia ignorar a data. Então nós ficaríamos até o amanhecer da quarta-feira de cinzas assistindo a todos os filmes de Woody Allen. Que boas risadas não renderiam!

Uma viúva diria que todos os filhos foram passar o carnaval na praia e a deixaram só. E eu perguntaria quais seriam as razões de os filhos deixarem-na só, e ela contaria tudo desde o início, desde que conhecera o pai deles, e de como tinha sido sua reação ao descobrir sua primeira gravidez. E eu perguntaria se na segunda e na terceira tinha sido a mesma coisa, e que expectativas ela tinha criado para cada um deles, e se ela não teria negligenciado de alguma forma um ou outro ou todos. Que boa reflexão renderia!

E um homem me diria que está com o pai hospitalizado e que é filho único. E eu perguntaria se o pai cuidava da saúde, e ele diria “Que nada! Enxugava uma garrafa de cana por dia!”. E então ele contaria que na juventude seu pai saía a fazer serenatas para diversas mulheres, e como a sua mãe sofrera por causa disso. “Mas a sua mãe não sabia que ele fazia isso antes de casarem?”, eu perguntaria, e ele diria “Claro que sabia, pois foi ouvindo a que ele fez para ela que ela se apaixonou, só que ela pensou que depois dela, ele pararia”, e eu retrucaria “E por que ele não parou?”, e ele responderia “Porque o que ele gostava não era tanto da musa, mas da serenata em si”. E assim ele continuaria descrevendo todas as mulheres para quem seu pai havia cantado e, às vezes, até arriscaria alguns versos das canções de que se lembrasse. Que boas histórias não renderiam!

E uma moça, com olhar triste e violão em punho, me diria que não está em clima de carnaval porque está sofrendo por amor. Diria que foi a mulher da transição. “O que é a mulher da transição?”, eu perguntaria, e ela explicaria “É a mulher com quem um homem fica no período que compreende o fim de um amor e o início de outro”. “E por que tu te sujeitaste a este papel?!”, eu questionaria, e ela diria que não sabia que era este o papel que ele lhe havia reservado. “E que desculpa ele te deu quando começou a amar essa outra?!”, eu perguntaria, e ela diria “Nenhuma, ele não disse nada, ele simplesmente sumiu”. E então ela começaria a dedilhar o violão e cantaríamos juntas “Trama em segredo teus planos, parte sem dizer adeus...” Que bons sambas não renderiam!

São muito interessantes, sim, as pessoas que não fazem nada nas datas em que todo o mundo faz alguma – e, geralmente, a mesma – coisa.

Brilhante legítimo - mas não único

Elis: depois dela não apareceu mais ninguém?

Vou mexer em vespeiro, mas vamos lá.

Um de meus passatempos favoritos é ver vídeos no YouTube. Eu simplesmente amo música, amo ver os artistas que admiro cantando/tocando e amo ver as versões que os anônimos deste mundo dão às canções. Em vários desses vídeos, deixo comentários. E em vários deles, leio os comentários alheios e, não raro, me deparo com o velho clichê: “nunca vai haver uma cantora como Elis”.

Concordo. Em parte.

Em primeiro lugar, porque obviamente não podemos prever o futuro. Podemos dizer no máximo que, desde que Elis morreu, nunca houve, até os dias de hoje, uma cantora como Elis. E ainda assim, só no Brasil. Quem ousará discutir que Amy Winehouse não está no patamar de Elis? Timbre magnífico, talento indiscutível, interpretações carregadas de emoção e repertório nota 10. Alguém vai contrariar?

Amy Winehouse: só quem ama o passado é que não vê

Em segundo lugar, o que eu acho é que até hoje nunca houve uma cantora que pudesse cantar As curvas da estrada de Santos como Elis. Ou Atrás da porta. Ou Como nossos pais. Ou Me deixas louca. Estas são músicas desesperadamente cheias de sentimento que, sim, exigem uma intérprete que lhes imprima emoção, e isso, de fato, no Brasil, nunca ninguém fez como Elis. Talvez Maria Bethânia o faça, mas, ainda assim, tento imaginar Grito de alerta e Olhos nos olhos na voz de Elis, e acredito que ela faria miséria dessas canções – da mesma forma que teria feito miséria de algumas composições de Cazuza, se tivesse vivido a tempo de conhecê-lo.

Muitas vezes, há músicas que surgem numa versão qualquer e, depois, carregadas pela emoção de uma outra intérprete, ficam muito melhores. É o caso de Will you still love me tomorrow?, que surgiu com as Shirelles na década de 60, ganhou diversas versões nas décadas subsequentes (Carole King fez uma, procurem no YouTube), mas, pelo menos para mim, tornou-se definitiva com Amy Winehouse. Amy parece cantá-la com o coração sangrando, e aí está seu mérito.

Will you still love me tomorrow? com The Shirelles


Will you still love me tomorrow? com Amy Winehouse


Em suma, o que faz de Elis e de Amy cantoras únicas é a intensidade de suas interpretações.

Mas, aí vem a minha tese: NEM TODA CANÇÃO É INTENSA. Nem toda canção canta dores lancinantes e paixões rasgadas e desesperadoras. Há as que cantam a indiferença, o tédio, a covardia, e essas pedem vozes amenas. Vamos falar de Pessoa, música a que me refiro no meu último post. O sujeito da canção rejeitou alguém especial pelo medo de amar. Covardia. Cansaço. Descrença. Conseguem imaginar versão melhor do que a de Marina? Conseguem imaginar Elis fazendo uma versão muito melhor do que a dela?

E ainda há as canções que cantam nada. Ou quase nada. O barquinho, de Roberto Menescal e Roberto Bôscoli, por exemplo. É uma canção sobre a calma de um entardecer de verão. Ouçam a versão de Elis e comparem com a de Maysa. A de Maysa é muito melhor, e ainda assim, a voz de Maysa também é muito dramática para esta letra. Prefiro a versão de Nara Leão, suave... como um entardecer de verão.

O barquinho com Elis Regina


O barquinho com Maysa


O barquinho com Nara Leão

Sunday, February 22, 2009

A pessoa mais linda do mundo

A música Pessoa, do compositor Dalto e interpretada por Marina Lima, vai ao encontro do que escrevi no post Mulheres em extinção? Às vezes, só de olhar, não reconhecemos a pessoa mais linda do mundo. Porque o olhar só enxerga a saia curta e o decote generoso, para usar os mesmos exemplos que usei no já mencionado post - e poderia ser um exemplo da contrapartida, pois estou falando das mulheres vítimas de estereótipos porque a questão me surgiu assim através daquela comunidade do Orkut, mas é claro que as mulheres também rotulam os homens através de estreitas frestas e os rejeitam de acordo com elas.

Escutem a música, ela está entre as minhas preferidas da Marina. Aliás, as músicas que são especiais para mim, assim como as pessoas que o são também, eu sempre lembro como eu conheci. Pessoa é de um álbum de 1993 da Marina, mas eu só fui ouvi-la pela primeira vez em fevereiro de 1999, num comercial da GNT que anunciava a programação especial que o canal exibiria durante a semana da mulher. Eu estava almoçando, cabeça baixa, olhando para o prato, quando ouvi aquela breve introdução seguida daqueles versos na voz da Marina. Ergui imediatamente a cabeça para ver do que se tratava. "Que música linda!", pensei. Agora ouçam e pensem vocês também. E não cansem nunca de acreditar!


Mulheres em extinção?

Esses dias eu estava percorrendo a esmo algumas comunidades do Orkut quando me deparei com uma de nome Mulheres em extinção, que conta com cerca de 66 mil membros. Cliquei no ícone para ler a descrição - o que seria uma mulher em extinção? - e descobri que a comunidade se refere a mulheres "finas, inteligentes, educadas, que se dão valor e que não saem fazendo barracos e falando palavrões". Então chamou-me a atenção o tópico mais recente do fórum de discussões: um rapaz criticava a suposta hipocrisia dos membros daquela comunidade, pois não pode haver 66 mil mulheres que não falam palavrões e que não transam com o primeiro bonitinho que aparece. "Se for investigar o passado de cada uma delas, não se salva uma", dizia o autor do tópico.

O que se seguiu à colocação deste rapaz foi um, a meu ver, festival de opiniões estreitas.

Todos os participantes masculinos da discussão mostraram-se indignados com o comportamento feminino atual - e não lhes tiro totalmente a razão. A questão é que eles e - olha lá o perigo das generalizações, mas vamos lá - a maioria dos homens analisa a questão de uma perspectiva, na minha opinião, distorcida. Não se trata de promiscuidade gratuita ou de - como muitos acreditam, e eu às vezes custo a acreditar que eles realmente acreditam nisso - interesse pelas condições materiais do rapaz. Pelo menos, não na maioria dos casos.

O que eu penso acontecer é que as mulheres, incentivadas pelos primórdios do feminismo, pensam-se inferiores aos homens, e por isso, querem competir com eles. Homens adoram conquistar e colecionar mulheres - e, homens, acreditem, isso incomoda muito as mulheres. Então elas fazem o mesmo para lhes dar o troco. E conseguem, pois como a tal discussão comprova, os homens estão incomodados com isso. Eu sei que em homens isso pode ser natural, mas isso não deve servir de desculpa para tal comportamento, pois nem tudo o que é natural é bom: o câncer é natural, assim como os terremotos, o infanticídio dos filhotes defeituosos - e o interesse feminino pelos machos que lhe dêem mais segurança, seja ela de que natureza for! ; )

Eu realmente penso ser uma forçação de barra da parte das mulheres fingirem realização ao seguir o modelo masculino de fazer sexo. Cheira-me a um modo de compensação, uma vingança. É mais ou menos como se uma menina visse um menino brincando alegremente com seus carrinhos e, largando súbita e raivosamente suas bonecas, dissesse: “Ah, é? Você gosta de brincar com carrinhos? Pois eu também gosto!”, e pegaria os carrinhos e brincaria com voracidade, fingindo contentamento, e diria “Olha só, como eu também gosto de brincar com carrinhos!” Mas na verdade ela não gosta.

Outro fato que chamou a minha atenção no debate em questão é a maneira absolutamente precipitada com que os homens julgam as mulheres. Uma saia curta e um decote generoso já basta para que a moça mereça rótulos nada abonadores. E o pior é que, uma vez que rotula aquela cristã, o cara não consegue enxergar mais nada na moça a não ser o estereótipo que ele mesmo criou para ela - eis o perigo dos estereótipos! -e nem leva em consideração que, mesmo que ele esteja certo em seu preconceito, a moça pode vir a mudar.

Em suma, no tópico nenhum homem questionou o porquê de estas mulheres se comportarem assim, muito menos levantou a hipótese de que elas podem ser promíscuas, sim, mas não apenas isso. Elas podem ser promíscuas e carinhosas, promíscuas e batalhadoras, promíscuas e competentes, promíscuas e aspirantes a um relacionamento que as façam não querer mais ser promíscuas. E o mesmo vale para os homens ditos cafajestes. A questão é que como quase ninguém está disposto a ter o trabalho de mudar, pensam que todas as demais pessoas também não podem. Mas todas podem, se quiserem e se tiverem um bom motivo para isso. E qualquer um de nós pode ser esse motivo.

Saturday, February 21, 2009

Salve Salvador!



Estive em Salvador nestas férias e adorei! Além de ter revisto minha querida irmã Eliz, seu namorido, Fabiano, e sua simpática cachorrinha Hiena "Pimpom", pude conhecer esta apaixonante cidade.

Na primeira tarde, fomos, por recomendação do taxista que levou minha outra irmã e eu do aeroporto à casa de Eliz, à praia de Piatã. Bad move! Piatã é suja e lotada! De bom, só mesmo um belo pôr-do-sol, que por sinal, lá acontece por volta das 17h30 ou 18h - a Bahia não adota o horário de verão. Lá amanhece supercedo, o que nos forçou a levantar todos os dias mais ou menos às 7h ou 7h30- em plenas férias! - para aproveitarmos bem a praia.


Pôr-do-sol em Piatã

No dia seguinte, a Eliz nos levou ao paraíso: Stella Maris. De onde ela mora, nas redondezas das avenidas Luiz Viana Filho e Jorge Amado, dá uns 40 minutos de ônibus tipo lotação (R$ 3,00 a passagem). Praia belíssima, ótimas piscinas naturais, coqueiros, poucos turistas e bons restaurantes – a moqueca de mariscada estava excelente, o peixe vermelho, nada de mais. Ponto positivo: os preços não eram exorbitantes, como se espera de lugares turísticos, principalmente em praias isoladas como a praia em questão. Pagamos lá por boa comida o mesmo que se paga em Porto Alegre por comida da mesma qualidade.


Eliz e eu em Stella Maris

Nunca tinha tomado banho em uma piscina natural, e adorei. Não corremos o risco de sermos sugados pelo mar – há ondas, mas elas não quebram, não repuxam e nem cometem a indiscrição de tirar nossos biquínis –, ficamos mergulhados até o pescoço e, o que é melhor, dá para enxergar não só nossos pés, mas os peixinhos coloridos que nadam em torno deles.


Eu, Eliz e Sandra em uma piscina natural de Stella Maris

Outro paraíso é a Praia do Forte, que fica a uma hora e meia de Salvador.


Praia do Forte

A viagem para lá foi uma aventura. Se vocês tiveram oportunidade de assistir à novela Tieta, transmitida pela Globo no horário das 8 em 1989 e reprisada no Vale a pena a ver de novo em 1994, devem lembrar da marineti, dirigida pelo personagem de Elias Gleiser. Pois é, foi numa mais ou menos assim que nós fomos à Praia do Forte. Havia um motorista e um outro carinha a cuja função não sei dar um nome específico, mas ele praticamente, a cada parada de ônibus, tentava convencer as pessoas a entrarem no veículo. Ah, e claro, ele também era o repsonsável por segurar a porta direita da “marineti” – senão, cairia.

A Praia do Forte é como uma villa supercharmosa, com restaurantes e butiques com aquele tipo de elegância descontraída, sabem? A propósito, comi um bobó de camarão inesquecível lá, mas esqueci o nome do restaurante – hehe –, só lembro que foi num restaurante italiano – sim, há comida para os “malucos” que não gostam de frutos do mar. Tem turistas de todo o mundo lá, mas também tem moradores locais, pois eu vi até uma escola municipal de ensino fundamental entre uma loja e outra – deve ser para os filhos das pessoas que trabalham lá.

No começo, eu odiei a praia em si, porque na hora de tomar banho, não queríamos entrar numa pequena baía onde havia alguns barcos, por medo de que a água estivesse meio suja em função do óleo das embarcações. Então tentamos as piscinas naturais, mas havia muitas pedras, de modo que os pés doíam. Por fim, acabamos nos rendendo à baía... e foi maravilhoso, o melhor banho que já tomei na minha vida. Água parada, morna e limpa. Nem sinal de óleo. Uma delícia.


Eu na Praia do Forte

É na Praia do Forte que fica o Projeto Tamar – aquele das tartarugas –, muito bem organizado, interessante e bonito. É um excelente programa para fazer com crianças – para quem as tem.


Projeto Tamar

Sobre a cidade de Salvador, propriamente dita, eu gostei dos bairros Pelourinho, Rio Vermelho, Pituba – fui a um restaurante chamado Côco Bahia neste bairro, muito bom, ótimo atendimento, ótimo crepe, ótima decoração, ótimo tudo – e mais um bairro elegante cujo nome não lembro, só lembro que o taxista disse que era ali que o ACM morava. Mas de modo geral, Salvador é muito feia e tem um trânsito horroroso – muito pior do que o de Porto Alegre, não tem nem comparação, na hora do rush fizemos em uma hora e meia um percurso que havíamos feito em dez minutos às 11h da noite no dia anterior! Outra coisa de que não gostei foi o fato de ninguém jamais ter troco – dos taxistas aos cobradores de ônibus. A passagem de ônibus comum lá custa R$ 2,20 – R$ 0,10 a menos do que aqui em POA –, e mesmo quando demos uma nota de R$ 10,00 para pagar para três pessoas, o cara não tinha troco! Ele não tinha R$ 3,40!!!

Mas a maior decepção de todas foi o show do Olodum. Paguei R$ 40,00 esperando ver uns trinta percussionistas tocando ritmos africanos que me fizessem eu me sentir como se tivesse recebendo um santo, e o que vi não foi nada além de um show de axé music, no maior estilo “tira o pé do chão, joga a mãozinha pra cima e bate na palma da mão!” Horrível.

Mas de modo geral, adorei a viagem e já disse à minha irmã que ano que vem estarei lá novamente!


Projeto Tamar - Praia do Forte

It's too late

Olhem que lindo o que eu achei, um cover só em cordas da música It's too late, clássico da Carole King dos anos 70.