Saturday, February 02, 2008

Porto Alegre é demais!

Porto Alegre é muito grande, e tão pequena!


Ah, escrevendo sobre Porto Alegre, não pude me furtar de voltar aqui e prestar uma homenagem a ela. Eu poderia esperar o dia 26 de março – dia de seu aniversário (impressionante como me dou bem com arianos!) – para fazê-lo, mas não me agüentei e cá estou, rendida a ela!

No post imediatamente anterior a este, eu mencionei um bar, o bar a que eu fui ontem. Pois então, ele é o único bar rock n’ roll de Florianópolis – o pessoal aqui curte demais reggae e MPB. Entrando lá, pensei com todo o bairrismo a que eu jamais tinha me permitido até então: “Que legal! Parece os bares de Porto Alegre!” Vim a saber, mais tarde, que os dois donos do dito cujo são porto-alegrenses.

Sentados à mesa, bebendo cerveja, conversamos sobre diversos assuntos, até que, não sei por quê, minha irmã e o amigo dela começaram a tal conversa sobre Porto Alegre que desencadeou a minha saudade de que falo aqui embaixo (ah, detalhe: houve um requinte de crueldade, no bar tocou a música Anoiteceu em Porto Alegre!). E falando nisso, ele – o amigo – disse “Eu adoro morar em Floripa, mas como eu gosto daquela p* daquela cidade!” E isso me fez lembrar uma frase deste mesmo cara, só que dita alguns anos atrás: “Porto Alegre é uma cadela!”

É mesmo! Ela nos dá um monte de motivos para não gostar dela: trânsito, violência, caos em dias de chuva, agenda pobre de shows internacionais e temperaturas de verão que só não são mais altas que o custo de vida... Sem contar os problemas que só os oriundos do interior – como eu! – identificam. Por exemplo, grande parcela dos porto-alegrenses se preocupam demais demais demais com imagem! Gastam o que têm e o que não têm para sustentar uma aparência para seus amigos que também vivem de aparência. O charmosíssimo bairro Moinhos de Vento, então, tem flora exuberante – com suas ruas arborizadas – e uma fauna bizarríssima! 99% das mulheres são incrivelmente iguais: cabelos artificialmente louros, pele artificialmente alaranjada e sorrisos e gestos artificialmente premeditados. Um dia, lendo uma revista de moda, chamou-me a atenção o comentário de duas estilistas de São Paulo sobre o estilo das gaúchas: “Elas têm muito bom gosto, mas se vestem todas iguais!” Cada vez que vou a algum bar deste bairro (porque ao contrário de muitas pessoas, a mim importa aqueles me acompanham, e não os habitués dos lugares), sinto-me exótica com meus cabelos crespos e escuros!

Outra coisa que estranhei assim que cheguei a Porto Alegre foi a maneira de os homens “azararem” as mulheres, quase sempre tentando impressionar com aquilo que cada um acha que tem de melhor: sobrenome, posição social, emprego promissor, músculos, erudição. No interior não é assim: todo o mundo se conhece – no mínimo, conhece alguém que te conhece – e, portanto, não precisa falar – ou não adianta mentir – sobre sua família, profissão ou endereço, porque todo o mundo sabe – ou muito em breve vai poder confirmar – ou desmentir – as informações. Então o cara simplesmente conversa sobre seus interesses em relação à moça. Simples, não? Felizmente, nem todos que moram em Porto Alegre são porto-alegrenses, e nem todos os porto-alegrenses são assim.

Mas Porto Alegre é uma cadela, e mesmo com tudo isso, a gente não consegue não gostar dela! O atendimento em estabelecimentos comerciais de toda ordem é excelente, os serviços são bem – e rapidamente – prestados, o sistema de transporte coletivo é ótimo, as corridas de táxi são baratas e as ruas são lindas e arborizadas. Há locadoras de vídeo em que se pode encontrar de tudo – e onde os atendentes entendem de cinema –, cafés aconchegantes e parques lindos, como o da Redenção, que é pertinho da minha casa e tem uma feira bem legal nos sábados de manhã! Tem um pôr-do-sol maravilhoso e lugares como o Mercado Público. E tem o que eu chamo de “gente como a gente”. Na cidadezinha em que passei minha adolescência, eu me ressentia da falta de amizades, porque só havia duas alternativas: as patricinhas e as maconheiras bicho-grilo (nada contra nenhuma das tribos, a questão é que eu simplesmente me sentia deslocada em ambas). Ninguém era como eu, assim... normal, sabe? Gente para quem roupas de grife não são tudo na vida, mas para quem também não é o cúmulo do materialismo e da futilidade malhar em uma academia e almejar comer em um restaurante bacana. Eu moro em Porto Alegre desde 2003, e desde então, não houve um único ano em que eu não tenha acrescentado um número razoável de pessoas legais à minha lista de amigos.

Porto Alegre também tem algumas peculiaridades. O centro da cidade não fica no centro da cidade. A Rua da Praia – cujo nome, de fato, é Rua dos Andradas – não tem praia nenhuma. E na zona sul existe um rio que na verdade nunca existiu, mas que arde em fins de tarde de luz vermelha, de dor vermelha, vermelho-anil.

Eu sou feliz... e sei!!! : )

Detalhe do Parque da Redenção: "quintal" saudoso da minha casa.


Geralmente utilizo este espaço para discutir assuntos objetivos: política, comportamento, arte. Hoje, no entanto, vou me egocentrar (não sei se existe este verbo – o Word não reconheceu –, mas se não existe, estou inventando agora!) e falar um pouco de mim!

Hoje faz dez dias que estou em Florianópolis. Tirando o recente dilúvio, não tenho do que reclamar. A casa em que estou hospedada não poderia ser melhor: os anfitriões são supergentis, a piscina é gostosíssima e no “meu” quarto tem computador plugado na internet. Ah, claro, tinha esquecido as praias... Mas dessas não preciso nem falar!

Contudo, tive um momento epifânico ontem. Num bar, no momento em que ouvi minha irmã dizer algo do tipo “Fica ali na Vasco”, referindo-se a uma rua do bairro Bom Fim, Porto Alegre, bairro este em que moro, me vieram à mente diversos elementos do meu cotidiano: o Zaffari, a locadora Espaço Vídeo, minha ruazinha amada, Fernandes Vieira, minha casa, minha cama, meus livros, meus cd’s, meu computador, MEUS AMIGOS, meus alunos, meu trabalho, os lugares que freqüento – a Redenção, a academia, a escola de música, os bares da Cidade Baixa, a Lancheria do Parque – enfim, A MINHA VIDA, e meu deu uma saudade doída dela, uma vontade louca de que o carnaval passe de uma vez e que tudo volte ao normal!!!

Foi neste momento, afastada de tudo e de todos, que percebi como minha vida, de uns tempos para cá – mais precisamente a partir de outubro de 2007, mais ou menos – tem sido maravilhosa!!! Tanta gente reclama da rotina, mas eu amo tanto a minha!

E então fiquei me perguntando: será que foi a minha vida que mudou ou fui eu que mudei o jeito de vivê-la?

Eu não sei a resposta, mas aposto na segunda hipótese. Houve, sim, algumas mudanças, das quais a que mais se destaca é o fato de eu ter começado a estudar canto. Não sei explicar o porquê, mas esta aproximação com a arte – e uma arte que envolve outras pessoas, como é o caso da música, porque desde sempre eu tenho o hábito de escrever, mas escrever é solitário, não envolve troca – mexeu muito comigo, me fez mais sociável, mais alegre, mais autoconfiante, e mais receptiva para as boas vibrações do mundo. Inclusive, justamente um colega da escola de música observou que eu tenho muita necessidade de me expressar. Ele tem razão. Mas eu não era assim. Tanto que publicava com muito menor freqüência neste blog. E me manifestava pouco em presença de outras pessoas, fosse em reuniões de trabalho, fosse em reuniões de amigos.

Mas todas essas mudanças provocadas pela música só foram possíveis porque eu mudei. Dois anos atrás, eu não teria me permitido interagir tanto com os colegas. Aliás, dois anos atrás, eu não teria me matriculado na tal escola de música. Tanto é que não me matriculei. : )

O que se passou comigo para que essas mudanças fossem possíveis?

Não consigo imaginar nenhuma outra resposta que não seja os quatro anos de análise. Quando me vejo quatro anos atrás, percebo o quanto eu era bruta, fria, medrosa. E sovina. Não em termos financeiros, porque não tinha tanto a poupar. Mas em termos de emoções – e isso eu já tinha de sobra, e economizava, escondia tudo debaixo do colchão, temerosa de investir em maus negócios, a espera daquele negócio da China que um dia chegaria e que, é evidente, nunca chegou. E, sendo assim, eu acumulava, e o acúmulo desvalorizava, embolorava e me fazia mal. Tanta economia resultava naquele famoso barato que sai caro. E o pior é que jamais suspeitei disso. Foi meu terapeuta que me mostrou. A muito custo, é claro, porque eu resistia a admiti-lo. O meu terapeuta, tem que ser tão paciente ele!...

O fato é que, nas emoções, assim como nas finanças, quem não aposta não ganha. E quem quer ganhar tem de estar disposto a perder. Tem de estar disposto a demonstrar mesmo sem a certeza de que a recíproca será verdadeira.

E neste sentido, posso dizer que estou me tornando uma investidora agressiva! Alguns riscos são irrelevantes, outros são bem grandes. Mas são eles que estão dando tanta cor à minha vida. A ponto de estar em férias em Floripa, morrendo de saudade da minha rotina em Porto Alegre!



P.S.: Eu desejo do fundo do meu coração que todas as pessoas que fazem parte da minha vida estejam tão de bem com suas vidas como estou com a minha! ; )