Wednesday, January 16, 2008

Tudo pode ser seu!...


Fale em cantoras brasileiras, e todos lembrarão dos mesmos nomes: Elis, Gal, Bethânia, Marisa Monte... Mais recentemente uniram-se ao grupo Ana Carolina, Ivete Sangalo. Quase ninguém lembra da Marina. Sim, a Marina Lima. E a Marina deveria ser lembrada com mais carinho e mais respeito. É dela a versão mais sensual que existe de Garota de Ipanema. E de Only You também. Se um homem fizesse uma serenata para mim cantando Only You como os The Platters, eu ia achar divertido. Se ele cantasse como a Marina canta, eu me apaixonaria. Sério, eu casaria com o cara! E a parceria com o Caetano Veloso em Nosso estranho amor? Lindíssima. Isso sem falar na versão que ela fez de Mesmo que seja eu, mais viril do que a do próprio Erasmo Carlos (aliás, que letra, Erasmo, que letra!!!).

E como se não bastasse a forma que a Marina dá às músicas, ainda tem o conteúdo das suas próprias composições, aquelas que ela fez com seu irmão, o filósofo Antônio Cícero. Não vou falar do “você me abre seus braços/e a gente faz um país” porque este, embora bonito, já está caindo na pieguice e no descrédito na atual conjuntura do Brasil. Mas tem “a única morada de um homem está no extraordinário”, da canção Próxima parada. Se isso for mesmo verdade, o que estamos fazendo aqui, no tão terrivelmente ordinário? Vendo a vida passar?

Isso acaba de me lembrar uma aula de recuperação que dei não faz muito tempo. Uma aluna que fez bagunça o ano inteiro resolveu prestar atenção na aula de recuperação. Me ouviu, fez perguntas, resolveu todos os exercícios. No final, saiu da sala de aula dizendo “Gostei desta aula”. Eu respondi que ela podia ter gostado das aulas do ano inteiro, bastava ela ter se envolvido como ela se envolveu naquela aula derradeira. Qualquer coisa é chata se a gente não mergulha nela. Coisa bem ruim é pintar uma parede ou fazer uma faxina com medo de sujar as mãos. Vamos passar o tempo todo nos estressando – e o trabalho vai resultar mal feito. Para mim, o extraordinário a que se refere Marina está em tudo ao qual a gente se entrega – mas a entrega não pode ser unilateral, tem que ser de todos os envolvidos! Nós acabamos todos sujos, mas é de uma sujeira compartilhada, e dá tanta satisfação ver o resultado do trabalho que nem percebemos nossa imundície.

Outro verso da Marina de que gosto muito é o “Agora descubra de verdade o que você ama/Que tudo pode ser seu”, da música Pra começar. Eu não diria que fazer tal descoberta seja o bastante, mas é um grande passo! Sua vida está parada? Descubra algo de que goste muito e faça um movimento, um simples movimento: pode ser se matricular num curso de pintura em acrílico, ou buscar contatos na área em que você deseja abrir um negócio. Comece! Dê esta tacada inicial, e verá como uma bola baterá em outra, que baterá em outra, que baterá em outra de cuja existência você nem suspeitava, e o jogo se desenhará numa nova configuração para você, talvez não muito fácil, mas tão sedutora, que você não quererá sair deste jogo antes do fim!

Um movimento! Faça um simples movimento! E nas horas vagas, escute Marina. Ela merece sua atenção.