Thursday, January 24, 2008

Complain, monkeys, complain!!!

“Tenho náusea física da humanidade, que é, aliás, a única que há”. Assim disse Bernardo Soares, heterônimo de Fernando Pessoa, no seu Livro do Desassossego. Afortunadamente, não tenho náusea física da humanidade. Só de uma parcela dela.

E a parcela mais nauseabunda que há é a daquelas pessoas descrentes da humanidade – da qual, parece, Soares fazia parte – de Pessoa não me arrisco a falar, porque ele era muitos. Dia desses eu assisti a um vídeo no YouTube chamado Dance, monkeys, dance! O vídeo dedica-se a debochar do ser humano, focando a sua ridícula pretensão de acreditar ser superior aos demais animais. Tudo o que eu penso quando vejo tal vídeo é “Perdoai-os, Senhor, eles não sabem o que dizem”. E não estou falando dos humanos. Nem dos animais. Refiro-me aos humanos que pensam assim.

Chama a atenção o trecho do vídeo que afirma, cheio de sarcasmo, que o ser humano é o único animal que acha que deveria ser feliz. Os outros animais se contentam em simplesmente ser. O que o autor do vídeo sugere? Que nós deveríamos também nos contentar em “simplesmente ser”? Então deveríamos viver apenas para dormir, comer, transar, parir e fugir de predadores? Deveríamos viver como animais?! Ah, esqueci: é que, para o autor, nós somos animais como quaisquer outros. Aham.

Imagino que quem pensa assim nunca se emocionou com uma música. Nem com um filme. Nunca leu um livro e ficou pasmo com a habilidade do autor de descrever exatamente o que ele sentiu naquela mesma situação. Aliás, nunca se consolou por saber que não é um solitário na sua dor – ou na sua alegria. Nunca se surpreendeu ao descobrir que também outras pessoas já sentiram aquilo.

Quem pensa assim nunca precisou de anestesia. Nunca teve pressa e precisou de um carro ou de um avião. Quem pensa assim não acha ruim comer carne crua. E não se incomoda de dormir ao relento. Quem pensa assim nunca pôs a cabeça em um travesseiro de penas, nem mergulhou em uma piscina em dia de calor escaldante. Também nunca tomou uma cerveja gelada com amigos num dia quente. Nem um café quentinho numa tarde hostil de inverno. Quem pensa assim acha ótimo tomar banho gelado no inverno. E não tem fotografias da sua infância. Quem pensa assim escreve tudo à mão e não vê mal nenhum em gastar o triplo de tempo para isso.

Quem pensa assim nunca ouviu “eu te amo”, nem “eu te odeio”. Nunca ouviu “como é bom ser tua irmã!” ou “por que não foste lá?, fizeste falta!”. Nunca ouviu, nem disse “adorei te conhecer”. Nunca teve o prazer de dar um presente. Nunca ajudou um cego a atravessar a rua ou pegou um bebê no colo. Nunca curtiu saudade, muito menos teve a alegria de matá-la.

O narrador diz que os homens negam ser macacos. Que eles querem ser outra coisa que não macacos, mas que não são. Eu digo que são, sim!

Também não sou especista. Respeito o animais e acredito que todos devem ter seu espaço e dignidade respeitados. Sou contra o uso de animais em circos. Não tenho casaco de pele, nem como foie gras. Eu acho o Knut um fofo. Apóio a luta pela preservação dos ursos pandas. Também quero que salvem as baleias. Mas os animais que pensam como o autor desse vídeo, a extinção desses não me comove.

2 comments:

Marina. said...

Sempre admirei as árvores.
São firmes, calmas e sábias....
Acho que todas as folhas são sábias.
Sabem lidar com o tempo, não se apressam nem se atrasam.
Tenho uma leve significante preferência pela natureza.
As abelhas, as formigas me mostram a lealdade extrema.
As serpentes a sábia solidão.
Enfim, não acho que há superiores ou inferiores, tudo faz parte do equilíbrio.
Percebo que humanos têm esta mania de ''comparação crítica''.(E muitas vezes uma grande parte é guiada pela estética).
Separando tudo hierarquicamente conforme o ponto de vista.
Não que isso seja errado ou certo, mas às vezes é bem injusta.
Pois tudo tem seu devido valor.
É como a história do parafuso. Que é mais ou menos assim...

‘’Havia um navio imenso e neste navio encontrava-se um parafuso...
O parafuso começou a empenar, foi se deslocando... Até que caiu...
E quando isso aconteceu, o navio partiu em duas partes, e afundou...
Então o parafuso, pasmado, disse a outra parte do navio que estava afundando:
-Nossa, mas eu sou um simples parafuso...
A outra parte concluiu:
-Mas você era muito importante aqui no navio. Você fazia parte do equilíbrio, este que sem você deixou de funcionar. ’’

Então, por que, ás vezes, quando encontramos uma formiguinha, totalmente ‘’na dela’’, perdida em algum jardim insistimos em pisar nela?
Temos o motivo apenas porque ela parece inofensiva e não pode retrucar?

Por que não preservar as plantas?
Por que não respeitar os insetos inofensivos?
Por que judiar dos animais abandonados?
Por que caçar animais e arrancar suas peles?
Não fico contrariada com os homens das cavernas, mas hoje em dia não precisamos mais nos proteger com o couro dos animais, temos opções variadas.
Sim, ainda há humanos que se acham superior a Natureza desrespeitando, e extinguindo.
Bom, e se acham superior principalmente a outros humanos.

É injusto, pois, não somos superiores nem inferiores fazemos parte do tal equilíbrio.
E isso não nos torna iguais, é uma ‘’diferença conectiva’’.

Ana, te parabenizo mais uma vez pelo texto.
Como sempre você traz palavras que encaminham a meditação.
Obrigada.

Aguardando seus posts
Marina. @)---------------

Deep Red said...

Ah que pena!! dessa vez não tenho como discordar das tuas idéias. Esse tipo de pessoas são criadas por uma falta de valorização dos aspectos afetivos da vida, o que está flagrante por todas as partes. Desde um outdoor que mostra que você só é feliz se usar a roupa de tal marca até a massificação de músicas cujo cunho erótico chega até nossas crianças desde a mais tenra idade. Talvez isso seja uma tentativa de popularização do american way of life, onde sempre precisamos ter mais e ser sempre o primeiro em tudo, tornando a vida uma luta obstinada para cumprir determinados objetivos, sem se importar com os caminhos a seguir. Este tipo de conduta não permite que sejamos francos com as pessoas que nos rodeiam pois elas sempre podem alcançar um sucesso maior que o seu, frustrando as suas expectativas. Não permite ficar feliz porque um amigo conseguiu uma promoção, arranjou um emprego, ou simplesmente adquiriu algum bem que você também queria ter. Vivendo segundo essas diretrizes, fica difícil imaginar um mate ao pôr-do-sol naquele friozinho invernal ou um choppinho numa noite quente...