Thursday, February 07, 2008

Sobre a fé a hierarquia social

Esta é daquele livro sobre sociobiologia que eu comentei alguns posts atrás – e sobre o qual falarei em muitos outros posts futuros:

“Algumas coisas virtualmente não existem: ateus em ninhos de metralhadoras e relações meio a meio”.

Chupem esta manga!!!

Simplesmente fantástica a citação! Concordo em gênero, número e grau!

Nunca pude presenciar – ainda bem! – uma situação que confirmasse minha hipótese, mas tenho minhas dúvidas de que um ateu mantenha-se implacável na sua descrença ao receber um diagnóstico de tumor maligno no cérebro de seu filhinho de 3 anos. Quem consegue confiar só em médicos, tão humanos – e falíveis – quanto qualquer um de nós? Na hora do aperto, acredito que todos se recusem a aceitar que estamos mesmo entregues ao nosso próprio destino. Nunca rezo, não fiz catequese, nem primeira comunhão, e nem lembro quando foi a última vez que entrei em uma igreja. Não fui sequer à missa de minha formatura de graduação. Mas em horas drásticas, aquela em que a gente costuma pensar “tô f*!”, clamei infantilmente a um ser superior que interviesse em meu favor. Ele nem sempre atendeu. Talvez porque achasse que eu precisava passar mesmo por aquilo. Talvez porque sadicamente estava a fim de rir às custas da minha desgraça. Talvez – hipótese mais provável – porque não exista mesmo. Mesmo assim, em situações posteriores, voltei a recorrer a ele, e ainda recorrerei outras tantas, o que me faz concluir que a fé não serve para conseguir sair da tempestade, mas para tolerá-la. Gil tem razão, a fé não costuma falhar. Se o objetivo dela é este mesmo de que suspeito, então ela não falha. Ela realmente nos dá forças incomensuráveis. E não posso deixar de dizer que, se lembro deste ser superior para pedir, também lembro para agradecer. Todas as noites – sem exceção! – quando eu chego da night em casa, assim que coloco os pés no corredor do meu prédio e fecho atrás de mim o portão, digo, não sei bem para quem, se para Deus, ou para o universo, sei lá, “Obrigada por ter chegado sã e salva mais uma vez!”

E sobre as relações meio a meio?

O autor completa: “Entre animais sociais, a falta de hierarquia definida produz situações muito instáveis. Ponha juntos diversos macacos (ou cães ou galinhas) pela primeira vez e voarão pêlos (ou penas). Continuarão a voar até decidirem quem é chefe e quem não é. Uma vez estabelecida a hierarquia, porém, reina a paz, interrompida apenas por pequenas brigas quando alguém tenta subir na escada social. Qualquer tentativa de mudar de posição tem probabilidade de causar rompimento.”

Com seres humanos acontece o mesmo. Sei que não somos apenas animais, e que poderíamos utilizar a razão de que tanto nos vangloriamos para viver numa sociedade igualitária. Mas justamente por causa de toda a sucessão de fracassos neste sentido que colecionamos ao longo de nossa história, começo a desconfiar de que há, sim, razão para vivermos em hierarquia. Não existe a exploração do homem pelo homem, para utilizar uma expressão de Marx, apenas porque isso é da nossa natureza. Ela existe porque talvez – quem poderá ter certeza no que diz respeito a isso? – seja mesmo necessária e inevitável. Mudanças são possíveis, mas só na superfície. Como a Revolução Francesa deu demonstrações ostensivas, o poder pode mudar de mãos, mas a tirania continua – e continua a haver quem se submeta a ela, ou porque não tem escolha, ou porque uma das alternativas exija sacrifícios pelos quais não estão dispostos a pagar.

A única coisa que defendo nesta história é que todos tenham o direito de querer e de lutar para subir na escada social. Parece cinismo da minha parte – e talvez seja mesmo – mas todo explorado deve ter o direito de se tornar um explorador, se assim o quiser e fizer por merecê-lo (será que existe um limbo entre estas duas classes, será que existem os que não são explorados, nem exploradores, os apenas bonzinhos? Deixemos a hipocrisia de lado: sinceramente, creio que não). E acredito que todos podem operar essa mudança em suas vidas. Só que para isso é preciso uma série de fatores: trabalho duro, senso de oportunidade, competência, boas relações sociais (olha aí elas de novo!), sorte. E, é claro, fé, que ela não costuma falhar!

; )

2 comments:

Deep Red said...

A tendência à religiosidade não é novidade, ela costuma acontecer sempre que as coisas fogem completamente ao controle. É sabido que os humanos à medida que envelhecem têm uma forte tendência à espiritualização. Posso exemplificar pois vi o processo acontecer com meu pai, percebi que em seus últimos anos de vida ele voltou-se a uma crença apesar de a vida toda ter se afastado de todas as religiões. Lembro que à época achei estranho. Com o tempo e as conversas inusitadas que temos por aí acabei sabendo do fato por um ... padre católico, posteriormente por um pastor luterano. Alguns desses religiosos são pessoas fantásticas para passar um tempo papeando.

À medida que envelhecemos começamos a perceber as coisas de modo diferente e a tomar consciência de nossa finitude e isso é mais ou menos com estar na trincheira.

O ser humano precisa de limites para viver em sociedade. Uma repressão dos instintos mais básicos é o que permite que possamos não sair matando alguém que nos incomoda. Como já disse uma vez por aqui neste mesmo blog, creio eu, o ser humano normalmente irá fazer uso do poder que tem. Isso se aplica mesmo aos casos de mudança no poder, cmo citado no texto. Talvez a maior prova disso seja a necessidade que os homens têm de possuir religião e divindades a quem deve "temer". Lembremos também que o homem que pregou a igualdade ABSOLUTA entre os homens, além de ser crucificado, deixou como primeiro mandamento, amai a Deus sobre todas as coisas. Sempre há uma instância maior a temer, mesmo de existência duvidosa. Mas quando somos desde cedo condicionados a acreditar que ela existe, passamos a duvidar que ela não exista.
No final disso tudo podemos chegar à conclusão de que o homem é um ser patético que necessita de controle externo para seus instintos de sobrevivência e seus desejos de poder, mas que se mostra frágil como uma criança ao estar acuado, que feio.

Quem gostar do assunto de comportamento dos seres humanos em condições especiais tente ler: Ensaio Sobre a Cegueira- Saramago; Rama - Arthur Clarke & Gentry Lee e Intermitências da Morte - Saramago é o que pude lembrar agora rapidamente.

Nice post!

Marina. said...

Eu acredito em Deus, na força da Natureza e no universo.
Acredito, também, que tudo que existe, existe por alguma razão.
Uma pequena pedra, um inseto, o que for esta ali por algum motivo.
Situações difíceis nos deixam mais fortes, é como a história da borboleta, que estava tentando sair do casulo, e um homem estava olhando o sofrimento da borboletinha.
Então, o homem com pena quis ajudá-la. E retirou a borboleta do casulo.
Esta borboleta nunca voou.
Porque ela precisava fazer aquela força com as asinhas para conseguir estica-las e depois voar. Ela ficou com as asas murchas e existiu andando.

‘’ Dê um peixe a um homem faminto e você o alimentará por um dia. Ensine-o a pescar, e você o estará alimentando pelo resto da vida. (Provérbio chinês)’’

Li isto em algum lugar uma vez, ‘’Deus não nos dá o que pedimos mas sim o que precisamos’’

Também acredito que todos que se encontram numa situação difícil, como no caso de uma doença grave, recorram à espiritualidade.

Acredito na hierarquia, só não creio que humanos possam se diferenciar nela.
Os grandes pensadores nunca quiseram estar em‘’’topos’’.

Um exemplo disso, é o grande Chico Xavier que se considerava nada mais do que uma pequena formiguinha que não fazia nada mais que seu dever.

Acredito que a fé é algo muito pessoal, cada um crê no que crê.
Eu creio numa religião em que me sinto à vontade, em que me sinto bem.
Está é a religião. Se você se sente bem estando nela, ótimo, é isso mesmo.
Toda religião que leva a uma paz interior eu creio que seja boa.
Só não acho justo, religiões que prejudicam outras pessoas ou até mesmo a natureza.

Qualquer tipo de fé alimenta uma esperança. E ter esperanças é muito melhor que se sentir vazio, tedioso.

Ana, Ótimo Post !
Espero que esteja bem.
Marina @)--------